Frequentemente descrita como a “pior dor do mundo”, ou pelo menos uma das piores, a neuralgia do trigêmeo é uma doença crônica de difícil tratamento — e que pode evoluir até se tornar incapacitante.
A condição voltou a atrair atenção após a brasileira Carolina Arruda, de 27 anos, ganhar destaque nas redes sociais no início de julho com vídeos relatando seu sofrimento diário por conta da neuralgia do trigêmeo.
Segundo ela, a agonia extrema fez com que ela cogitasse a cogitar sair do país em busca de um procedimento de eutanásia.
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Mas, afinal, o que é essa condição tão dolorosa? E realmente não existe alternativa para lidar com ela? Abaixo, entenda um pouco mais sobre o assunto.
1. O que é a neuralgia do trigêmeo?
Essa dor surge por conta de problemas envolvendo o nervo trigêmeo, responsável pelas sensações da face — o que envolve toque, sensibilidade e a própria dor. Em alguns casos, a causa da alteração é indeterminada, mas o mais comum é que ela ocorra devido a um vaso sanguíneo que comprime as raízes do trigêmeo.
O nervo também pode ser comprimido em função de tumores, lesões e algumas condições como a esclerose múltipla. É uma doença que tende a se desenvolver ao longo de anos: episódios de dor intensa se alternam com períodos de remissão. Com o tempo, as fases de remissão, que no início podem durar vários meses, tornam-se cada vez mais curtas.
Na neuralgia do trigêmeo, a dor costuma se manifestar em episódios individualmente curtos, de poucos segundos. No entanto, ela pode ocorrer inúmeras vezes ao dia. É uma dor intensa e súbita, descrita pelos pacientes como se lembrasse uma facada ou um choque. O mais comum é que seja sentida só de um lado do rosto, mas pode ser bilateral.
2. Por que ela causa tanta dor?
Além de envolver diretamente um nervo, por si só uma estrutura responsável por “informar” o cérebro da sensação de dor, o que torna essa condição tão desafiadora é sua resistência aos analgésicos mais comuns. Quando ocorre, a dor é incessante e parece não ter alívio.
Remédios corriqueiros, como paracetamol ou dipirona, por exemplo, não costumam surtir qualquer efeito. E mesmo medicamentos controlados usados para a dor, caso dos opioides, muitas vezes não trazem resultados.
É possível ainda que, por muitos anos, ela não seja diagnosticada corretamente, ou o paciente confunda uma fase de remissão com a efetividade de algum remédio que usou.
Conforme os anos passam, as crises se tornam menos espaçadas entre si, o que leva a uma busca mais ativa por diagnóstico e tratamento.
3. Existe cura para a neuralgia do trigêmeo?
Diferentes tipos de tratamento podem reduzir consideravelmente a dor dos pacientes e, em muitos casos, é possível manter a doença sob controle sem que ela se torne tão incapacitante. Por afetar um nervo, o recomendado é buscar orientação com neurologistas e neurocirurgiões.
Medicamentos contra convulsões costumam ser indicados para tratar casos mais leves, e devem ser administrados sob supervisão médica para verificar a efetividade e os riscos de efeitos colaterais.
4. O que fazer se nem remédio ajuda?
Quando os fármacos não dão conta, intervenções cirúrgicas podem ajudar. O procedimento mais utilizado atualmente é a descompressão microvascular, em que o vaso sanguíneo que comprime a raiz do nervo trigêmeo é afastado do local. Em mais de 80% dos casos, o procedimento elimina a dor de forma duradoura.
Existem ainda outras abordagens, algumas das quais têm caído em desuso, como a microcompressão por balão, em que um pequeno balão inflado por cateter, instalado na bochecha, é utilizado para comprimir o nervo e reduzir a sensibilidade associada à dor.
Devido à variedade de tratamentos com resolução positiva, o recurso à eutanásia é considerado extremamente controverso para a neuralgia do trigêmeo. Na maioria dos casos, é possível encontrar uma saída para a dor crônica. Os médicos indicam explorar todas as alternativas terapêuticas na busca por algo que funcione para o seu caso.
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