Em busca de saúde, milhões de brasileiros tomam suplementos de vitaminas, e a maioria sem orientação profissional.
Todo mundo sabe que esses micronutrientes são essenciais ao organismo, mas eles viraram uma panaceia. Tem vitamina prometendo de tudo: combate ao desânimo e à falta de memória, prevenção de doenças, crescimento de cabelo e por aí vai.
Quem toma por conta própria tende a reproduzir o velho ditado: “Se não fizer bem, mal não faz”. Infelizmente, a ciência discorda.
“Ingerir algo de que você não precisa pode gerar um mal silencioso com prejuízos lá na frente”, alerta a nutricionista Daniela Seixas, doutora em bioquímica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Suplementos não são inócuos. É necessário entender as condições de saúde e as necessidades de cada um antes de indicá-los”, frisa.
O excesso de vitaminas já está fazendo muita gente parar no hospital, com médicos atendendo pacientes com intoxicação ou comprometimento de órgãos por taxas muito elevadas desses nutrientes.
Entenda por que isso ocorre na lista a seguir.
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1) É possível ter overdose de vitaminas
É o que os especialistas chamam de hipervitaminose — uma espécie de overdose por consumo crônico elevado desses micronutrientes.
Isso porque essas moléculas fundamentais para as reações químicas do nosso corpo podem, em excesso, estimular outras reações e originar compostos prejudiciais a saúde.
A interação de vitaminas demais com outras substâncias do organismo, até mesmo com fármacos, pode levar a resultados desastrosos.
“Estudos ligam vitamina E em excesso ao aumento do risco de AVC hemorrágico. Já o suplemento de betacaroteno, precursor da vitamina A, está ligado a maior propensão a alguns tipos de câncer”, ilustra a nutricionista Annie Bello, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Por isso, só suplemente com indicação médica e carência comprovada.
2) É impossível abusar na dose de vitaminas só com alimentação
A hipervitaminose é um problema criado pelo homem. Sim, o corpo humano depende de vitaminas adquiridas do meio externo, mas falamos em miligramas ou microgramas, não mais que isso. Por isso é um micronutriente.
Em geral, ao juntar fontes vegetais e animais na alimentação, dificilmente haverá carência ou sobrecarga. Claro, um cardápio muito desequilibrado e algumas doenças raras podem desviar esse padrão. Mas comer 5 porções de fruta no dia ou muitos vegetais não vai fazer você exagerar nas vitaminas. Pelo contrário, fará bem à sua saúde!
O grande problema mesmo é o uso indiscriminado de suplementos.
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3) Nem todo mundo precisa dosar (ou suplementar) vitamina D
Em sua última diretriz oficial, a Endocrine Society, entidade que representa a endocrinologia internacionalmente, foi clara: há um excesso na solicitação de exames para checar os níveis de vitamina D no organismo.
Muito propagandeado na pandemia de Covid-19, o suplemento fez parte de coquetéis para imunidade e kits de tratamento precoce contra a doença. E protocolos com megadoses prometem prevenir ou tratar diabetes, Parkinson e doenças infecciosas. Nada disso é verdade.
Desconfie de profissionais da saúde que indicam suplementação de vitamina D por conta de cansaço ou “imunidade baixa”. De acordo com a Endocrine Society, adultos saudáveis na faixa de 19 a 74 anos não devem se submeter a exames nem fazer uso de suplemento de vitamina D.
Altas doses utilizadas com frequência elevam o nível de cálcio no sangue e propiciam reações colaterais sérias, como fraqueza muscular, lesão renal e confusão mental.
“A oferta de altas doses de vitamina D é tóxica para o organismo. Aumenta a predisposição a cálculos renais, calcificação de tecidos moles e endurecimento das artérias”, avisa o nutrólogo Helio Vannucchi, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
A recomendação é diferente para idosos e crianças pequenas, que precisam mais do nutriente por conta da saúde óssea. Para eles, diversas sociedades médicas recomendam a suplementação profilática (sem a necessidade de fazer exames).
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4) Suplemento de vitamina C não cura gripe nem resfriado
Sim, acredite, isso é um mito. E a ciência já o desbancou há mais de 10 anos, com uma revisão sistemática de estudos de 2013, feita pela Cochrane, rede global independente de pesquisadores e profissionais da saúde.
O documento analisou 29 estudos que avaliavam o impacto da substância na redução da incidência, duração e gravidade de gripes e resfriados. Estavam inclusos 11.306 participantes.
Ao final da revisão, a conclusão dos autores foi clara: na prática, a vitamina C não teve nenhum efeito consistente sobre a incidência de gripes e resfriados na população em geral.
Claro, ingerir regularmente alimentos ricos em vitamina C faz bem para a saúde no geral a longo prazo. Mas, novamente: nenhum nutriente ou alimento cura doença.
Suplementar, neste caso, ainda pode significar desperdício de dinheiro: estudos demonstram que há um limite para a absorção do ácido ascórbico: mesmo se você ingerir 2 000 mg (uma pastilha efervescente), irá aproveitar no máximo 15% disso. O resto sai pela urina.
Mesmo com esse limite, o excesso acumulado pode trazer problemas. Entre eles: pedras nos rins, diarreia, interferência no aproveitamento do ferro pelo corpo e piora na resposta fisiológica aos exercícios físicos.
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5) Vitamina A é a mais perigosa de todas
Acredite: ela é uma das mais fortes e tóxicas em altas doses. Tanto que alguns derivados, como o retinol e a isotretinoína, são considerados medicamentos com diversas contraindicações.
Assim como esses dois, o suplemento de vitamina A em grande quantidade ou mal indicado pode levar a prejuízos no fígado e na pele, além de ser teratogênico, ou seja, oferecer risco de malformação aos fetos — atenção, gestantes!
Isso não acontece quando ingerimos betacaroteno natural, o precursor da vitamina abundante em vegetais alaranjados e uma grande fonte do nutriente na natureza.
No entanto, o suplemento de betacaroteno isolado e o de vitamina A já formada (como nas cápsulas de óleo de fígado de bacalhau) fazem mal à saúde quando mal indicados.
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