Cerca de 4 em cada dez médicos convivem com algum problema de saúde mental — seja ansiedade, depressão ou burnout. O dado é fruto da pesquisa “Qualidade de Vida do Médico”, lançada pela Afya na última semana.
Líder em educação médica na América Latina, a empresa ouviu 2.005 profissionais de medicina sobre seus maiores desafios ao equilibrar a elevada carga de trabalho com o próprio bem-estar.
“A proposta da pesquisa é manter um panorama vivo e dinâmico sobre a qualidade de vida dos médicos e, a partir disso, incentivar a comunidade a criar soluções que deem suporte e acolhimento a este público”, justifica Eduardo Moura, médico e diretor de pesquisa do Centro de Pesquisa da Afya, em comunicado à imprensa.
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Foram ouvidos médicos e médicas de todas as regiões do Brasil e de todas as faixas etárias. As mulheres foram maioria, representando 56% dos respondentes. Metade dos participantes trabalham na região Sudeste, seguidos pelo Sul (20%), Nordeste (17%), Centro-Oeste (7%) e Norte (5,5%).
A maior parte são profissionais jovens, de 26 a 35 anos (52%). Apenas 13% dos entrevistados tinham 56 anos ou mais.
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Estresse elevado nos consultórios
Praticamente metade dos médicos (49%) concordam que o principal fator que contribui para o estresse da profissão é a extensa carga horária. No Brasil, os médicos trabalham, em média, 50,9 horas semanais. Homens tendem a passar 54,3 horas em consultório, enquanto mulheres dedicam 48,1 horas ao ofício.
Outros pontos que geram estresse na classe médica é o descontentamento com o sistema de saúde e as condições de trabalho (43%), poucas recompensas profissionais (36%), dificuldades financeiras (26%) e problemas pessoais sem relação com a carreira (18%).
Metade dos entrevistados dizem se sentir inseguros em relação ao futuro profissional e um em cada cinco afirma que mudaria de profissão se pudesse voltar no tempo. Por outro lado, três em cada cinco não se arrependem de terem escolhido fazer medicina. Os 29% restantes dizem que mudariam apenas de especialidade.
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Transtornos mais prevalente na classe médica
Segundo a pesquisa, as condições mentais que mais afetam os médicos e médicas brasileiros são a ansiedade, a depressão e o burnout.
Um terço dos participantes apresenta ansiedade, sendo que 27% acompanham e controlam a questão com especialista e 6,4% têm o diagnóstico, mas não tratam.
Além disso, 22% receberam diagnóstico de depressão — 20% tratam o problema corretamente e 2% não acompanham.
Por fim, 6,7% têm síndrome de burnout — 4,7% contam com ajuda profissional e 2% dos diagnosticados não foram atrás de tratamento. Ainda, um quinto dos médicos dizem já ter passado por um quadro de burnout.
Entre os que estão esgotados e não se cuidam, os principais desafios são a falta de tempo para aderir ao tratamento (48%), falta de motivação (40%), medo do impacto na atuação profissional (17%), dificuldade de acesso a serviço de apoio (10%), descrença no serviço de saúde mental (10%) e estigma (5%).
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“Precisamos quebrar tabus das doenças mentais e humanizar a figura do médico como um ser humano que também enfrenta adversidades e indecisões ao longo da jornada”, defende Moura.
Os médicos com burnout diagnosticado trabalham, em média, 57,2 horas por semana e 80% se sentem inseguros em relação ao mercado de trabalho. Além disso, 94% afirmam que o estresse atrapalha suas relações foram do trabalho, 82% concordam que a situação prejudica a própria prática profissional e 48% afirmam que já cometeram erros médicos por causa do esgotamento.
As mulheres são as que mais sofrem com tudo isso. A prevalência de ansiedade, depresão e burnout no sexo feminino (40%, 25%, e 8%, respectivamente) é maior do que a observada entre os homens (de 25%, 18% e 5%).
Tratamento e autocuidado
Por conta de transtornos mentais, 7% dos profissionais foram afastados do trabalho nos últimos 12 meses — e 0,8% chegaram a ser internados.
As médicas foram as que mais sofreram afastamento (8,5%, contra 4,7% dos homens), mas os médicos ficam longe do trabalho por mais tempo (5,4 semanas para eles se recuperarem, contra 4,8 semanas para elas).
De acordo com a pesquisa, 58% dos respondentes não usam drogas psicoativas. Já entre aqueles que usam, as mais comuns são antidepressivos (33,5%), benzodiazepínicos (12,3%), smart drugs (10,9%), anfetaminas e psicoestimulantes (1,8%), opioides (0,7%) e barbitúricos (0,2%).
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Cerca de dois terços fazem o uso sob prescrição médica, enquanto o restante se automedica.
Entre outras substâncias frequentemente consumidas pela classe médica estão o álcool (48%), tabaco (7,8%), maconha (7%), cigarro eletrônico (6,8%), inalantes (1,3%) e psicoestimulantes (0,7%).
E, quando o assunto é autocuidado, 56% têm por rotina o consumo de alimentos frescos, 42% praticam atividade física regularmente e 37% dizem atingir suas expectativas em relação ao desenvolvimento profissional. Um a cada 10 médicos também participa de ações de voluntariado.
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