Leite inflama, glúten e lactose fazem mal, açúcar vicia e bolo de chocolate dá câncer.
Se você tem um perfil em redes sociais, com certeza já ouviu algumas dessas alegações, mesmo que elas não tenham fundamento algum.
De olho nas marés de modismos e fake news sobre alimentação na internet, a nutricionista francesa radicada no Brasil Sophie Deram decidiu desvendar as principais ideias equivocadas que rondam por aí, trabalho que resultou no livro Pare de Engolir Mitos (Sextante) – Clique para comprar*.
“O projeto me exigiu muita coragem, porque não é fácil se colocar contra uma mecânica enorme que gera lucro e seguidores”, diz a autora, publicada pela editora Sextante. “Mas, se eu conseguir fazer uma pessoa repensar quem ela segue nas redes ou no que acredita, já estarei feliz.”
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VEJA SAÚDE: No livro, você pede para o leitor esquecer tudo que já ouviu sobre nutrição porque há muita desinformação à solta. Por que esses mitos circulam tanto?
Sophie Duram: Desde os primórdios, o ser humano vive de acreditar em milagres e procurar soluções aparentemente fáceis. O que motiva tanta desinformação é a venda de promessas.
A alimentação tem um papel muito real, que é proporcionar mais saúde às pessoas. Mas essa busca desenfreada por uma fórmula de saúde perfeita fez a nutrição entrar em um reducionismo que mais atrapalha do que ajuda.
Tudo fica reduzido a nutrientes, cálculo de calorias, quantidade de proteína, impacto no peso etc.
Criar alimentos vilões e tirar coisas como glúten e lactose do dia a dia da população, por exemplo, só beneficia parte da indústria que desenvolve novos produtos ditos “saudáveis”. E muita gente tende a acreditar nessas promessas porque realmente quer melhorar sua alimentação.
Você critica que até mesmo profissionais de saúde espalham desinformação sobre nutrição nas redes sociais. Por que isso acontece?
Sensacionalismo, medo e milagres são o que mais impacta e gera seguidores nas redes sociais. O discurso adequado para falar de saúde envolve moderação e bom senso, mas isso não chama a atenção. Então há nutricionistas, médicos e outros profissionais usando esse chamariz para ganhar seguidores, e assim mais mitos são disseminados.
Cito no livro uma nutricionista que falou em suas redes que há cinco alimentos brancos que você deve evitar a qualquer custo: farinha, açúcar, leite, sal e cocaína! O que ela está fazendo? Uma confusão de conceitos!
Na minha opinião, um profissional de saúde que fala isso deveria ser punido. Mas o que aconteceu? Ela ganhou mais likes e mais e mais seguidores. Na internet, isso acaba funcionando.
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Para ajudar as pessoas em meio a essa guerra de narrativas, você defende diferenciar pseudociência de verdades. Como fazer isso?
Ter senso crítico é o primeiro passo. Meu livro tem esse propósito: educar os leitores a usarem um filtro. Não acreditar em tudo o que lê. Não mudar a sua vida, de repente, de maneira radical, porque você viu algo na internet. Sempre buscar, pelo menos, uma segunda opinião, conversar com alguém, se informar corretamente…
A busca pelo dito “saudável” muitas vezes leva a uma indústria muito lucrativa. Quando, na realidade, ser saudável é seguir a definição de saúde: bem-estar físico, mental e social. Se sentir bem, em paz, se autorizar a comer um bolo de chocolate de vez em quando, não viver em guerra com o corpo ou a comida.
Como espera que a leitura do livro auxilie as pessoas a engolirem menos mitos nutricionais?
O livro é gentil. Ele aconselha a prestar atenção, ir no seu ritmo, não ter pressa e filtrar a informação. É uma pesquisadora falando diretamente com os leitores, explicando que vê muita pseudociência e pessoas sendo enganadas, bombardeadas por informações prejudiciais.
É um livro para esclarecer, mas também tranquilizar. Uma jornalista me falou que adorou o livro porque ele explica, mas não faz ninguém se sentir culpado. No fim, é isso: as pessoas estão tentando fazer o melhor, só precisam ser menos ingênuas.
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