O consumo abusivo de bebidas alcoólicas levou à morte 2,6 milhões de pessoas no mundo em apenas um ano. Outras 600 mil foram vítimas das consequências do uso de drogas. Desses óbitos, 2,4 milhões ocorreram entre homens.
Os indicadores fazem parte do mais novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema, divulgado nesta terça-feira, 25. A atualização considera dados de 2019.
Naquele ano, cerca de 400 milhões de indivíduos viviam com transtornos relacionados ao uso de álcool e drogas. Desse total, 209 milhões enfrentavam a dependência alcoólica.
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“O consumo de substâncias prejudica gravemente a saúde individual, aumentando o risco de doenças crônicas e problemas de saúde mental, resultando tragicamente em milhões de mortes evitáveis todos os anos”, destacou Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, em comunicado.
A OMS cobra dos países ações mais incisivas para a redução de consequências sociais e sanitárias do alcoolismo, com destaque para o acesso facilitado aos tratamentos.
Consequências para a saúde
Desde 2010, as taxas de mortes relacionadas com o álcool têm caído. Contudo, as estatísticas globais permanecem altas. De acordo com o documento da OMS, a situação é pior na Europa e na África.
De todas as 2,6 milhões de mortes atribuíveis ao álcool em 2019, estima-se que 1,6 milhões foram causadas por doenças crônicas não transmissíveis, incluindo 474 mil por doenças cardiovasculares e 401 mil por câncer.
“Além dos danos ao fígado, o álcool está diretamente relacionado com o desenvolvimento de alguns tumores, como o do trato digestório, de garganta, de pulmão, de esôfago, de estômago, do reto, e até de mama. Portanto, reduzir ou eliminar o consumo é uma maneira eficaz de se proteger dessas doenças”, enfatiza o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Aproximadamente 724 mil pessoas faleceram em consequência de lesões, incluindo acidentes de trânsito, violência e automutilação. As doenças transmissíveis, por sua vez, concentraram 284 mil óbitos.
O relatório mostra que o excesso de bebidas alcoólicas aumenta o risco de contágio pelo HIV, por conta de relações sexuais desprotegidas. Consequentemente, há ainda um aumento na mortalidade por tuberculose e infecções respiratórias.
Álcool entre jovens
Vale destacar que a maior proporção de mortes atribuíveis, 13%, ocorreu entre jovens e adultos com idades entre 20 e 39 anos.
Globalmente, 22% de todos os jovens entre 15 e 19 anos bebem regularmente. No Brasil, o índice chega a 40,8%.
Tendências de consumo de álcool
A ingestão total de álcool per capita na população mundial diminuiu ligeiramente de 5,7 litros em 2010 para 5,5 litros em 2019. Os níveis mais elevados registrados no relatório foram observados na Europa e nas Américas.
Já o nível entre os consumidores é, em média, de 27 gramas de álcool puro por dia, o que equivale aproximadamente a dois copos de vinho, duas garrafas de cerveja (330 ml) ou duas porções de bebidas destiladas (40 ml).
Essa quantidade, segundo a OMS, já é o suficiente para elevar o risco de diversas condições de saúde.
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Lacunas no tratamento
Os transtornos por uso de substâncias são tratados a partir de diferentes abordagens, que incluem medicações, acompanhamento psicológico, grupos de suporte e rede de apoio com amigos e familiares.
Contudo, a OMS alerta que a cobertura terapêutica permanece baixa. A proporção de pessoas em contato com os serviços variou entre menos de 1% e não mais de 35% em 2019 nos países que fornecem esses dados.
Cerca de um terço dos países não reúne dados sobre a epidemiologia dos problemas pelo uso de substâncias. Além disso, mais de 40% dos que responderam à OMS não recolhem informações sobre a prestação e a utilização de serviços de tratamento.
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No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou, em 2021, mais de 400 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. O dado representa um aumento de 12% em relação a 2020, quando foram contabilizados 356 mil acompanhamentos.
O cuidado a pacientes com dependência química é realizado gratuitamente pelo SUS. O primeiro acesso deve ser realizado em unidades de atenção primária à saúde. A rede também inclui espaços especializados, como os centros de atenção psicossocial (CAPS).
De acordo com a OMS, questões como estigma, discriminação e os conceitos equivocados sobre a eficácia do tratamento contribuem para lacunas críticas no cuidado.
Para reverter os indicadores, a agência de saúde das Nações Unidas recomenda a realização de campanhas globais, o reforço na prevenção e tratamento, a ampliação na formação de profissionais de saúde, e a integração entre diversos órgãos da sociedade.
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