Em outubro de 2014, quando se preparava para disputar o Masters 1.000 de Xangai, na China, o tenista espanhol Rafael Nadal deparou-se com um adversário inesperado: o diagnóstico de apendicite. Para poder competir, optou pelo tratamento com antibióticos.
Um mês depois, submeteu-se à cirurgia para retirada do apêndice. Conto essa história porque há cerca de uma década, começaram a aparecer estudos sobre a regressão da apendicite com o uso de antimicrobianos, administrados por via endovenosa. Seria o caminho para evitar a cirurgia?
Evidências científicas posteriores apontam para uma resposta negativa. Eles mostram que, na maioria dos casos, a abordagem clínica é apenas protelatória: até 70% dos pacientes que só tomam medicamentos voltam a ter o problema em até cinco anos e acabam tendo de se submeter à operação.
Portanto, não faz sentido adiar um procedimento que, diagnosticado precocemente e realizado por laparoscopia, leva cerca de 30 minutos, com alta do paciente em menos de 24 horas e rápida recuperação.
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Para que serve o apêndice?
O apêndice tem formato de tubo e é um prolongamento da região onde o intestino delgado desemboca no grosso. É considerado um órgão vestigial, ou seja, é um resquício evolutivo, atualmente sem função.
Embora não desempenhe nenhum papel no organismo, o apêndice pode gerar problemas. Uma obstrução desse pequeno tubo pode bloquear a passagem do líquido entérico, que passa por ali, desencadeando uma proliferação das bactérias presentes no local e um processo inflamatório.
Nos adultos, a obstrução geralmente é provocada por uma pequena “pedra” de fezes endurecidas (apendiculito). Nas crianças, ocorre mais comumente uma hipertrofia do tecido linfático da mucosa do apêndice, originada por uma reação do sistema imunológico a uma inflamação, como uma amigdalite.
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Evolução da apendicite
A apendicite começa com um inchaço da mucosa do apêndice. Na fase inicial, os sintomas são bastante inespecíficos – náuseas, perda de apetite, sensação de que algo que comeu não fez bem.
Depois, num período de até 12 horas, aproximadamente, evolui para ulceração (inflamação com pus). Nesse ponto, surgirá um sinal mais específico: dor perto do umbigo que se move para o lado direito do abdome e piora com o movimento de pressionar/soltar essa região.
Se o incômodo não melhorar com um analgésico comum, é hora de buscar atendimento médico. Além do histórico do paciente e exame físico, pode ser solicitada uma ultrassonografia ou uma tomografia para confirmar o diagnóstico.
Sem tratamento, o processo pode culminar com uma perfuração do órgão, quadro popularmente chamado de apêndice supurado, com contaminação da cavidade abdominal e risco de infecção generalizada. Apendicites agudas exigem cirurgia de emergência, evitando complicações e evolução para quadros mais graves.
Após o procedimento, é importante encaminhar o apêndice extraído para mais estudos, a fim de verificar se existem outras causas para a obstrução do órgão, como tumores, enfermidades inflamatórias como a doença de Crohn e, no caso das mulheres, endometriose.
Mas e os remédios?
Eles ficam reservado para situações especiais ou para pacientes com comorbidades, que contraindiquem qualquer tipo de cirurgia.
Fora disso, a tacada acertada, como acabou fazendo Rafael Nadal em novembro de 2014, é submeter-se à mesa de operações para extrair o apêndice e viver em paz sem ele.
Elimina-se de vez o risco de complicações. E, como não tem função, o organismo não se ressentirá de sua falta.
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