Andressa Urach é influenciadora digital, modelo, criadora de conteúdo adulto e tem muita habilidade de chamar atenção. Desta vez, ela apareceu em um vídeo (cuidado: imagens fortes) com a língua partida em dois, semelhante a das cobras e lagartos.
O procedimento de bifurcação da língua é cirúrgico e muito arriscado. A língua é altamente vascularizada, e pode ter sangramentos graves e de difícil recuperação.
Como os dois lados ficam independentes, podem se movimentar de forma não usual e levar a problemas para a fala e deglutição. Não raro os indivíduos se arrependem da intervenção.
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De onde veio a ideia
Popular entre as body modifications (modificações corporais), a bifurcação se difundiu mais a partir de 1997 com Erik Sprague, um artista norte-americano que tatuou 70% do teu corpo, cindiu a ponta da língua e ficou conhecido como The Lizardman (Homem Lagarto).
Especula-se, porém, que a técnica é antiga e tenha surgido na Índia para facilitar a prática do Khechari Mudra, técnica da ioga que consiste em enrolar a língua até a cavidade nasal.
Diferentemente do Homem Lagarto, Andressa Urach optou por uma separação profunda na língua. A bi-secção lingual ou tongue splitting, em inglês, consiste em perfurar a língua com um piercing no ponto desejado e cortá-la com bisturi ou fios rígidos em direção à ponta.
Cada parte, posteriormente, é suturada ou cauterizada. O procedimento, claro, deve ser feito por cirurgiões plásticos – embora poucos aceitem realizar essa alteração que não tem fins terapêuticos.
Os riscos de partir a língua em dois
O Brasil não tem dados contabilizados sobre o número de bifurcações de língua. Mas o Colégio de Cirurgiões do Reino Unido indica que uma em cada cinco pessoas com piercings na área dos lábios passa por problemas após a intervenção. A cicatrização total da língua após o procedimento demora até 45 dias.
Além da chance de hemorragias e infecções durante o procedimento, pode haver inchaço da língua e lesões na boca. Ao dividir a língua, cada parte se movimenta de forma independente, o que exige um aprendizado para se acostumar com o novo formato do órgão. Pode haver repercussões na fala e na deglutição.
Um estudo publicado em uma revista de linguística comparou a fala de 12 indivíduos que haviam passado pelo procedimento com um grupo controle. A análise mostrou que os indivíduos com a língua bifurcada, embora mantenham a fala inteligível, falam mais sons fricativos atípicos.
Sons fricativos, como o f, v, s, z, x, j, são aqueles cuja pronúncia resulta da aproximação incompleta de dois órgãos da boca, o que obriga a corrente de ar a se comprimir.
A incisão também pode interferir no paladar porque corta músculos e nervos. Tanto que os cirurgiões alegam que a operação de reversão é tão complicada e arriscada quando a da separação. Ou seja, a língua pode ser reconstruída, mas os prejuízos podem se manter. É preciso pensar bem antes de fazer.
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