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Corre Kilombo: conheça um coletivo de corrid…

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A atividade física é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos pilares da vida saudável. No entanto, a prática de exercícios perpassa a escolha individual.

A adesão ao movimento depende de uma série de fatores, como disponibilidade de tempo e energia. A falta de dinheiro, a insegurança e a ausência de equipamentos e espaços adequados ainda afastam a população do esporte. Isso fica bem claro ao olhar para as periferias.

Uma pesquisa realizada pelo grupo Novo Outdoor Social (Nós) aponta que 47% dos moradores de comunidades e de periferias afirmam não ter como pagar pelo acesso à atividade física, enquanto 41% se sentem inseguros, devido ao medo da violência e da criminalidade.

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Questionados sobre a palavra que usariam para definir o esporte, 6 em cada 10 participantes responderam saúde. Na sequência, aparecem termos como bem-estar, diversão, condicionamento físico e lazer.

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A boa notícia é que, apesar dos desafios, mais de 55% afirmaram estar em movimento, sendo as modalidades mais citadas corrida ou caminhada (42%), futebol ou futsal (30%), academia ou musculação (29%), voleibol (10%) e natação (8%). A pesquisa contou com a participação de 800 pessoas, de todas as regiões do país.

Promover o acesso ao esporte e lazer é uma questão de política pública, embora nem sempre contemplada na agenda de governantes. Para suprir essa lacuna, surgem iniciativas como o coletivo de corrida Corre Kilombo, criado em um 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, em São Paulo.

Um dos idealizadores do projeto é o cantor Viegas, entusiasta das corridas, que também é ex-BBB. A seguir, ele conta como a iniciativa tem transformado realidades.

VEJA SAÚDE: Qual a origem do coletivo Corre Kilombo?

Viegas: O Corre Kilombo surge a partir de uma necessidade que observamos de pessoas pretas se reunirem para fazer uma atividade física. O esporte está associado à recuperação de problemas graves de saúde, como a depressão.

Entendemos que a maior parte da população que comete suicídio é a população preta, principalmente homens. O exercício pode transformar a vida de qualquer pessoa, independentemente se ela tem algum tipo de doença ou não. A prática é benéfica para a saúde mental e física e, em alguns contextos, tem impactos emocionais e, quem sabe, espirituais.

Pensamos em uma forma de acolher as pessoas pretas, ressaltando que não se trata de um grupo para excluir pessoas brancas, de forma alguma. Temos tido resultados muito gratificantes, justamente porque o movimento entrega algo que as pessoas esperavam receber.

Essa conexão acontece de forma horizontal, ou seja, conseguimos ouvir e ser ouvidos, estabelecendo trocas reais. Buscamos ser a nossa própria referência.

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Qual o retorno das pessoas que participam do projeto?

O primeiro Corre Kilombo aconteceu na Universidade de São Paulo, em um sábado, dia 20 de novembro de 2022, para ser mais exato. Éramos 11 pessoas, sendo apenas uma mulher. Nas últimas edições, chegamos a reunir 650 pessoas no parque Ibirapuera, com participação 80% feminina.

Normalmente, as mulheres acabam se afastando mais da atividade física por conta de filhos, trabalho, cuidados da casa e várias coisas. No nosso encontro, elas são a maioria, ficamos muito felizes em perceber isso, sozinhas ou com a família.

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Você vê o projeto como uma forma de promover mais inclusão?

Com certeza. Uma das coisas que venho aprendendo é que tudo de melhor que quero receber é o que preciso oferecer. Então, se falamos de saúde mental e acolhimento, é preciso promover isso na prática.

O encontro acontece uma vez por mês, sem dia específico. Sempre aos sábados, a partir das 7h ou 7h30 da manhã. Assim, é um momento do mês que trabalhamos em coletivo, com o intuito simplesmente de poder transmitir uma mensagem: cuide-se, se você não cuidar de si, não vai ter “nós”.

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O acesso à prática de exercícios ainda é desigual no Brasil, o projeto joga luz sobre isso?

Quando a gente fala da população negra é aquele famoso ‘o buraco é mais embaixo ainda’. A selva de pedra, São Paulo, é um lugar que já não é tão acolhedor na questão de acesso ao esporte e ambientes voltados para a atividade física.

Precisamos entender que ainda há mais uma problemática: muitas vezes, os poucos lugares que existem, como o parque Ibirapuera, por exemplo, não são acolhedores ou acessíveis.

Ainda que seja um lugar gratuito, nem sempre a população negra se sente pertencente ou com permissão para entrar. Ela não se reconhece ali, entende? Esse é um dos motivos pelos quais ocupamos esse lugar e fazemos questão de marcar o nosso ponto de encontro no Museu Afro, que tem toda uma representatividade para nós.

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