Contrações involuntárias, ansiedade, desconforto… De acordo com a quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (o famoso DMS), cerca de 15% das mulheres norte-americanas relatam sofrer dores recorrentes durante a relação sexual.
São diferentes tipos de dor, sendo duas as mais frequentes: dispareunia (causada pelo movimento do pênis) e vulvodínia (que acontece na vulva, parte externa da vagina).
O incômodo também é comum entre as brasileiras. Segundo uma pesquisa do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), 18% das mulheres convivem com o mesmo problema.
Apesar do número expressivo, poucas conseguem encontrar diagnóstico e tratamento de forma rápida e eficaz para o problema.
Em uma pesquisa feita com pacientes do Projeto Afrodite, do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), as mulheres relataram passar, em média, sete anos convivendo com a dor.
Uma das principais reclamações é o desconhecimento dos médicos em relação às disfunções sexuais femininas, e o descaso com as queixas das pacientes.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsApp
“É preciso reforçar que não é normal sentir dor na relação sexual. Essa manifestação pode estar associada a outras condições ginecológicas, como a endometriose ou a infecções, ou ainda ter fundo psicológico”, explica a ginecologista Fabiene Bernardes Castro Vale, presidente da comissão de sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Confira a seguir as principais causas relacionadas ao problema e como tratá-lo.
+ Leia também: O que causa dor durante o sexo?
Dispareunia e vulvodínia: qual a diferença?
A dor relacionada ao ato sexual pode aparecer de várias formas.
Contrações e espasmos involuntários na musculatura da vagina, que dificultam e até impossibilitam a penetração, são chamadas popularmente de vaginismo.
A condição pode atrapalhar não apenas o ato sexual como também a realização de exames ginecológicos, pois a mulher não consegue relaxar a musculatura íntima.
Já a dispareunia é o nome dado à dor provocada pelo movimento do pênis durante a relação sexual ou no início da penetração. Ela pode ser classificada como dispareunia superficial (próxima à entrada do canal vaginal) ou dispareunia profunda (dor sentida no “fundo” da vagina, mais próxima ao colo de útero).
Há ainda um terceiro tipo, a vulvodínia, uma dor na vulva, a parte externa da genitália da mulher. Ela que se caracteriza por um incômodo crônico, que não necessariamente está relacionado ao sexo. Sem causas identificáveis, pode estar relacionada à disfunções musculares, neurológicas e psicossomáticas.
+ Leia também: Sexo, gênero e dor: chega de preconceito!
Causas e fatores de risco de dispareunia e vulvodínia
Confira os principais:
As questões hormonais, aliás, também podem impactar a sensibilidade, a lubrificação, o desejo e o prazer no sexo — predispondo a dores pélvicas. “Em geral, é extremamente comum também que as pacientes apresentem outras dificuldades. Problemas de excitação, insatisfação e falta de interesse são as principais queixas”, enumera Fabiane Vale.
+ Leia também: A vida sexual da mulher com endometriose
Como é feito o diagnóstico?
Ao apresentar dor na relação, a paciente deve procurar um profissional especializado para avaliar o seu quadro. O ideal é buscar, primeiro, o ginecologista, em especial aqueles que trabalhem na área da sexologia, que possuem maior expertise em lidar com o diagnóstico de disfunções sexuais.
O diagnóstico, em geral, é realizado a partir do exame clínico feito pelo profissional, que avalia as queixas o estado físico da paciente. Exames complementares podem ser solicitados a depender da suspeita médica.
Tratamento da dor durante o sexo
O tratamento depende das causas e dos fatores identificados em cada paciente. Ele pode envolver o uso de medicamentos, exercícios pélvicos e psicoterapia.
Para que as contrações e dores do canal vaginal cessem, a musculatura do assoalho pélvico deve passar por uma reeducação.
“A reabilitação da região é feita com exercícios de dessensibilização, para que a mulher consiga relaxar”, afirma Laíse Veloso, fisioterapeuta pélvica especializada no tratamento de disfunções sexuais pelo Projeto Afrodite, da Unifesp.
+ Leia também: Melhorar a saúde passa pelo assoalho pélvico
A abordagem é feita com exercícios e massagens orientadas pelo fisioterapeuta que acompanha o caso, e também podem ser utilizadas técnicas como laser e a eletroestimulação.
Esses métodos não têm relação a práticas como o pompoarismo, que não tem evidência científica e não trabalha o relaxamento muscular da região — pelo contrário, trabalha a contração local.
Em casos em que a dor está muito associada à ansiedade ou a depressão, é importante recorrer a avaliação de um psicólogo ou psiquiatra e realizar tratamento de psicoterapia.
A participação do parceiro no tratamento também faz diferença. “É preciso que haja companheirismo e paciência. A mulher precisa de tempo e espaço adequados para romper o ciclo da dor”, pontua Veloso. “Mas, acima de tudo, ela deve procurar o tratamento para si mesma, para que se conheça melhor e sinta prazer nesse momento que não pode ser doloroso.”
Compartilhe essa matéria via: