Na noite do dia 10 de julho, em Brasília, a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (ACESSA) encerrou, com festa e entrega de troféus aos ganhadores, a terceira edição do Prêmio Autocuidado em Saúde ACESSA. O mês escolhido para a cerimônia tem sua simbologia, afinal é no dia 24 de julho que se celebra mundialmente o Dia Internacional do Autocuidado.
Em 2024, a premiação apresentou também a categoria Reconhecimento Especial, desta vez destinada a iniciativas, políticas, campanhas, programas ou projetos que promovem e incentivam a prática do autocuidado como um complemento fundamental à saúde pública. “Reconhecer projetos voltados à saúde pública é fundamental, pois eles desempenham um papel crucial na disseminação de práticas de autocuidado, prevenção de doenças e promoção de hábitos saudáveis. Essas iniciativas ajudam a desafogar o sistema de saúde pública, proporcionando às pessoas ferramentas e conhecimentos para cuidar melhor de si mesmas. Além disso, promovem uma cultura de responsabilidade individual e coletiva pela saúde, essencial para a construção de uma sociedade mais saudável e consciente”, comenta Cibele Costa Zanotta, presidente executiva da ACESSA.
Para analisar e dar notas aos trabalhos, a premiação contou com a dedicação e o esforço de um júri de experts em diferentes áreas do conhecimento. A partir de critérios como abrangência e aplicabilidade, impacto e relevância, inovação e capacidade disruptiva, além do emprego de tecnologia, eles elegeram numa primeira etapa os três finalistas em cada categoria.
Em Promoção à Saúde, mereceu destaque uma gincana elaborada pela ONG LiveLab e a farmacêutica Roche Brasil, com foco em engajar adolescentes na prevenção de doenças crônicas. Outro time finalista, da Universidade Franciscana (UFN), de Santa Maria (RS), criou um programa a fim de impulsionar melhores práticas de saúde materno-infantil. O terceiro representante da categoria é o Instituto Lado a Lado pela Vida e seu mutirão para diagnosticar e encaminhar casos de câncer de pulmão e pele no Norte e Nordeste do país. A definição dos destaques veio das notas atribuídas por Márcio Atalla, formado em educação física e nutrição, consultor de qualidade de vida em empresas, colunista em programas de rádio e jornais; Vanderli Marchiori, nutricionista e fitoterapeuta, fundadora da Associação Paulista de Fitoterapia (Apfit) e conselheira da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva (ABNE); e Maisa Kairalla, geriatra, presidente da comissão de imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Para analisar os trabalhos de Comunicação em Saúde e Autoconhecimento, o prêmio reuniu Diogo Sponchiato, jornalista, redator-chefe de VEJA SAÚDE; Lis Leão, pesquisadora sênior do Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein; e Rogério Malveira Barreto, médico e empreendedor de impacto social na Pulsares, empresa focada em letramento em saúde.
Eles apontaram os finalistas de 2024: o Mapa da Saúde Mental, desenvolvido pelo Instituto Vita Alere, que disponibiliza informações confiáveis e relaciona lugares que fazem atendimento online ou presencial de serviços de saúde mental gratuitos ou a custo social.
Em outra frente, igualmente dedicada ao bem-estar emocional, o Instituto Ame Sua Mente criou um site repleto de conteúdos em formato de blog, audiobooks, podcasts e webstories sobre o tema. O objetivo é colaborar para a prevenção e o controle de problemas como depressão e ansiedade, sobretudo em jovens. E vem da Universidade Federal de Santa Catarina e do Centro Catarinense de Reabilitação um manual para promover o autocuidado e estimular a reabilitação e inclusão social de pessoas com lesão medular.
A categoria Uso Racional de MIPs e Outros Produtos apresenta entre os destaques uma cartilha de exercícios para quem vive com HTLV, infecção que gera declínio funcional progressivo. O trabalho traz estratégias para o fortalecimento muscular e foi proposto por uma equipe da Universidade Federal do Pará (UFPA). O projeto da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora (MG), por sua vez, é voltado a fomentar o uso racional e responsável de medicamentos, apostando na tática de sensibilizar jovens a respeito do tema por meio de ações educativas em escolas municipais da cidade. Outra iniciativa também voltada à saúde de grávidas e seus bebês é o terceiro finalista. Trata-se de um aplicativo desenvolvido na Universidade Federal do Piauí (UFPI) para apoiar gestantes de alto risco. Os jurados da categoria foram Gonzalo Vecina, médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP); Carlos R. F. Bara, consultor de marketing, doutor em administração de empresas pela USP, mestre em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP); e Rafael S. Santana, farmacêutico e mestre pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), doutor e professor adjunto da Universidade de Brasília (UnB).
“A ACESSA tem a honra de apoiar e incentivar iniciativas que colocam o indivíduo no centro do processo de cuidado com a saúde. A diversidade geográfica dos projetos premiados é um reflexo da crescente adesão ao autocuidado em todo o país. Cada vez mais as pessoas estão assumindo o protagonismo dos cuidados com a própria saúde, buscando informações
confiáveis e adotando práticas que promovem o bem-estar físico, mental e social”, complementa Cibele Zanotta.
Na segunda etapa do processo de avaliação, todos os jurados em conjunto escolheram os vencedores, incluindo o projeto premiado em Reconhecimento Especial, cujos três finalistas foram indicados pela organização da premiação. Uma grade de atividades educativas, práticas e informativas que incentivam um estilo de vida equilibrado de alunos, professores e toda a comunidade escolar, da Secretaria Municipal de Educação de Toledo (PR), foi um dos selecionados. Já a Secretaria Municipal de Educação de Porto Velho (RO) incluiu na programação da rede de ensino estratégias como exames oftalmológicos e entregas de kits de higiene bucal. O terceiro finalista é a Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa (PB), com ações de reforço à campanha Janeiro Branco, em prol da saúde mental.
CATEGORIA: PROMOÇÃO À SAÚDE
Desde 2015, a realidade de um país de dimensões continentais e com parte da população vivendo em ambiente rural e distante de grandes centros vem mobilizando o projeto desenvolvido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida. Em 2023, a entidade direcionou seus esforços para estados do Norte e Nordeste, colocando em andamento um mutirão de saúde, juntamente com uma campanha digital voltada ao diagnóstico precoce de câncer de pulmão e de pele.
Com o apoio de órgãos públicos, profissionais e gestores de saúde e imprensa, a ação contou com veículos 4×4 e uma van, além de equipamentos de dermatoscopia e espirometria, necessários para as avaliações. Com esse aparato, as equipes percorreram regiões de Rondônia e do Piauí. Instalados dez dias em cada lugar, fizeram avaliações e programaram monitoramento para analisar questões relacionadas ao acesso aos serviços de saúde de pessoas com suspeita de câncer.
“O projeto contribuiu com informação de qualidade e orientação a trabalhadores rurais e suas famílias nos lugares por onde passamos. Além disso, engajou profissionais e agentes comunitários de saúde acerca da urgência do câncer, contribuindo com informações atualizadas sobre esses tipos de tumores”, reforça Marlene Oliveira, presidente do instituto.
CATEGORIA: USO RACIONAL DE MIPS E OUTROS PRODUTOS
A mortalidade materna no estado é muito alta. E isso acontece por causas evitáveis, como hipertensão e diabetes gestacional”, diz a enfermeira Lis Marinho, uma das responsáveis pela criação do Gestar Saúde, aplicação desenvolvida na Universidade Federal do Piauí (UFPI) voltada ao auto-cuidado na gravidez, mais especificamente para casos com risco de complicações.
O software, de acesso gratuito, permite incluir registro das consultas e lembretes, data prevista para o parto e informações relevantes, a exemplo de pressão arterial – com sistema que avisa quando fica acima do normal. Dessa forma, a mulher consegue fazer um acompanhamento da evolução da sua gestação e se capacita para identificar sinais e sintomas quando algo não vai bem. O software apresenta também mapas e figuras que esclarecem sobre o fluxo de atendimento e a localização de hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS) de referência. Na parte voltada aos profissionais de saúde materna, há recomendações de práticas clínicas, com links para estudos que subsidiam informações a respeito de diagnóstico, fatores de risco e protocolos de atendimento de intercorrências.
CATEGORIA: COMUNICAÇÃO EM SAÚDE E AUTOCONHECIMENTO
Desde 2014 o Grupo de Apoio às Pessoas com Lesão Medular (Galeme) desenvolve atividades teóricas e práticas a fim de dar suporte ao dia a dia de quem vive com as repercussões do trauma. A deficiência física é caracterizada por mobilidade reduzida ou inexistente, déficit de sensibilidade e alterações que impactam vários aspectos da vida.
Diante desse contexto, uma equipe multidisciplinar criou uma publicação que reúne informações sobre como cuidar de disfunções urinárias quando há necessidade do uso de cateter, boas práticas para o funcionamento do intestino, cuidados com a pele para evitar feridas por pressão e orientações sobre a vida sexual no processo de reabilitação.
“O impacto do Galeme se mostra na consciência para o autocuidado e na retomada da vida, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva”, afirma a enfermeira Adriana Dutra Tholl, uma das organizadoras. “Da pesquisa à aplicabilidade de cuidados no cotidiano de pessoas com lesão medular e suas famílias, nosso grupo vem transformando vidas”, finaliza a autora.
RECONHECIMENTO ESPECIAL: GESTÃO PÚBLICA PARA O AUTOCUIDADO
Identificar e corrigir problemas visuais e bucais em alunos, promovendo saúde integral, é a proposta da Secretaria Municipal de Educação de Porto Velho (RO) na estratégia de prevenção da evasão escolar. Lançando mão de equipamentos modernos para diagnóstico e tratamento odontológicos, as equipes agendam visitas de avaliação de dentistas, entregam kits de higiene bucal e ensinam como usar corretamente escova e fio dental.
Detectar problemas de visão é outro pilar da força-tarefa para evitar prejuízos no aprendizado de crianças e adolescentes do município. Integrando os serviços de saúde ao ambiente escolar, o projeto facilita o acesso e garante a continuidade dos cuidados dos jovens. “Esse projeto, em sinergia com o Programa Saúde na Escola (PSE), tem promovido
um impacto profundo e duradouro nos estudantes”, afirma o cirurgião-dentista Marcus Vinícius de Oliveira Costa, idealizador da ação.
O programa abrange 141 escolas municipais, sendo 84 na zona urbana e 57 na zona rural de Porto Velho. Em 2023, a iniciativa alcançou milhares de alunos, provando ser facilmente adaptada a outras realidades educacionais, em diferentes contextos e escalas. “A fusão dessas ações demonstra como a prevenção e o autocuidado, aliados a uma educação integral, são fundamentais para formar uma geração mais saudável e consciente. Esse modelo integrado de saúde e educação serve como referência nacional, destacando a importância de políticas públicas bem estruturadas e executadas”, completa Marcus Costa.