Vários trabalhos científicos correlacionam a obesidade com a redução da fertilidade em mulheres e homens. O risco de infertilidade é 78% maior em mulheres em idade reprodutiva com obesidade, em comparação com aquelas com peso normal.
Os efeitos da obesidade na fertilidade feminina são diversos. Por exemplo: ela pode resultar em disfunção menstrual e anovulação (falta de ovulação).
Isso porque o tecido adiposo (a gordura corporal) libera moléculas que promovem resistência à insulina e inflamação, afetando a evolução dos óvulos. Aí cai a chance de serem fertilizados por um espermatozoide e gerarem um bebê.
Além disso, a obesidade afeta a implantação do embrião e outras funções reprodutivas, levando a concepções atrasadas e taxas de aborto aumentadas.
Em homens, a obesidade reduz a quantidade e a qualidade dos espermatozoides – e pode até gerar ausência deles.
Além das dificuldades biológicas, a obesidade traz barreiras psicológicas e sociais. E o estresse também é associado à infertilidade.
Uma abordagem global, incluindo perda de peso e controle de doenças associadas (como diabetes, colesterol e ansiedade) pode melhorar significativamente as taxas de gravidez em pessoas com obesidade.
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Mas… os tratamentos para obesidade ajudam na fertilidade?
De maneira geral, intervenções focadas na perda de peso melhoram as chances de concepção. Assim, medicamentos como o Ozempic (agonista de GLP-1) poderiam aumentar a fertilidade, pois são poderosas armas no auxílio à perda de peso.
Em homens com obesidade, os agonistas de GLP-1 podem aumentar a fertilidade ao promover a perda de peso e a melhora do metabolismo do corpo como um todo.
Estudos mostraram melhorias na contagem e motilidade dos espermatozoides, embora o impacto direto desses medicamentos nos hormônios reprodutivos masculinos ainda não esteja totalmente claro.
Nas mulheres, é importante destacar que a síndrome dos ovários policísticos é a principal causa de disfunções na ovulação, o que gera infertilidade. A genética é protagonista aqui, mas o quadro pode piorar com a obesidade.
Assim, a primeira linha para tratamento dessas mulheres é a perda de peso, com ajustes na alimentação e prática de atividades físicas. Mas o surgimento dessa nova classe de medicamentos para perda de peso vem ajudando bastante.
Mulheres com síndrome dos ovários policísticos e infertilidade tiveram melhora do ciclo menstrual (com aumento e melhora da ovulação) e aumento da taxa de gravidez com a perda de peso e uso de agonistas de GLP-1, como o Ozempic.
Ou seja, essa medicação, ao promover o emagrecimento, pode ser uma aliada da fertilidade. Mas não dá para dizer ainda que, por si só, ela aumenta as chances de gravidez.
O uso desse remédio exige uma avaliação criteriosa, e não pode ser pautado por pressões sociais. Até porque ele não é isento de riscos…
Cuidados com o uso
Com base nas informações disponíveis, os agonistas de GLP-1 devem ser evitados durante a gravidez e a lactação devido aos possíveis riscos para o feto e o lactente.
No entanto, o uso desses medicamentos em torno do período de concepção não parece aumentar o risco de malformações maiores no bebê. É crucial que os médicos avaliem cada caso individualmente e discutam os riscos e benefícios com pacientes que estão planejando engravidar.
Um estudo com dados de mais de 50 mil mulheres grávidas com diabetes tipo 2 não encontrou associação entre o uso de agonistas de GLP-1 no início da gestação e um aumento no risco de malformações graves nos bebês.
Isso sugere uma segurança inicial desses medicamentos quando usados em torno do período de concepção, mas são necessários mais estudos para confirmar esses achados. O ideal é parar o uso assim que desconfiar de uma gravidez.
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*Alfonso Massaguer é ginecologista e especialista em reprodução humana. É autor do livro A Espera
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