Enquanto você lê este texto, mais uma promessa relacionada à alimentação está sendo divulgada, impulsionada, curtida e compartilhada. Das redes sociais aos grupos de WhatsApp é um pulo, e os corações ávidos por saúde e alguns quilos a menos se enchem de esperança.
Boa parte das promessas não para em pé. É o que chamamos de clickbait: um título bem chamativo para gerar cliques no conteúdo. A ideia é fisgar o sujeito e dá certo porque ele não lê. Geralmente, para na manchete e já compartilha a suposta novidade.
E é aí que mora o perigo. Depois que aquela mentira já atingiu milhares e milhares de pessoas, o estrago está feito e as vozes sensatas não ecoam na multidão. Mas eu sigo acreditando nas condutas baseadas em evidências.
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Por isso, selecionei alguns exageros e ideias falsas propagadas por certos influenciadores, veículos de comunicação e até profissionais de saúde. Com base em dados levantados por profissionais sérios, pretendo esclarecer cada um deles. Vem comigo?
“Vermes causam diabetes”
Essa afirmação foi proferida por um nutricionista nas redes sociais. Como você deve imaginar, não existe qualquer associação entre a presença de vermes no corpo e a diabetes, uma doença crônica complexa e com causas multifatoriais. Mas, claro: o tal profissional vendia um protocolo de desparatização, para eliminar tais parasitas do organismo.
A bióloga Ana Bonassa e a farmacêutica Laura Marise, idealizadoras do canal digital “Nunca Vi 1 Cientista” desmentiram o boato e foram processadas pelo autor do conteúdo falso, que teria sido “submetido a vergonha e tristeza, e sofrido prejuízos na venda de seus serviços”. Mas, como algum bom senso ainda resta à humanidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu os efeitos da condenação.
“Ao cozinhar os legumes, os nutrientes vão para o ralo”
Cinco porções por dia: duas de frutas e três de legumes e verduras. Essa é a recomendação de especialistas para uma alimentação mais saudável. Mas, por diversos motivos, a imensa maioria dos brasileiros passa longe dessa meta. E, vamos combinar, demonizar o cozimento é um tremendo desserviço…
Sim, existe alguma perda de nutrientes, mas ela é pequena. Prepare seus legumes e verduras do seu jeito, com os temperos que preferir, na hora que der. Mas faça. E passe longe de extremistas. Sua saúde agradece.
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“Arroz branco é tão prejudicial quanto açúcar puro”
Essa você deve ter lido. Ganhou bastante espaço na mídia porque a afirmação teria vindo de pesquisadores de Harvard. A galera low carb paleo fez a festa. Assim como a turma das listas – “Confira 10 substitutos saudáveis para o arroz”.
E, vindo de Harvard, o templo da verdade absoluta, não cabe questionamento, certo? Errado. Primeiro, o estudo não fez essa afirmação, apenas verificou que o arroz branco se transformava rapidamente em açúcar no sangue.
Segundo, arroz puro em grandes quantidades de fato eleva rapidamente os índices de glicose em circulação. Assim como diversas outras fontes de carboidrato simples. Até aí, nada de novo no horizonte.
Mas, pensando especificamente na nossa realidade, como você como arroz? Puro? Aposto que não. O prato típico do brasileiro – arroz, feijão, carne e legumes – é saudável e delicioso. Tem carboidrato, mas também tem proteína, gordura, fibras nutrientes que retardam a absorção do açúcar pelo organismo.
“Leite é um veneno no seu café da manhã”
O moço que disse isso não é nutricionista nem médico. Gravou o vídeo mostrando seu corpo de 60 anos sarado e banhado por autobronzeador. E veio com essa premissa tão verdadeira quanto o seu shape.
Vamos aos fatos: leite é uma excelente fonte de proteína e carboidrato. Se você o digere bem, não tem intolerância à lactose, alergia à proteína do leite ou alguma doença inflamatória intestinal que o deixe mais sensível a ele, não há porque riscar do cardápio.
“Ah, mas leite inflama”. Em pessoas saudáveis e sem nenhuma das condições citadas acima, isso não procede. Na verdade, ele pode até ter um efeito anti-inflamatório devido aos seus compostos bioativos. Pesquisas mostram que dietas ricas em laticínios, especialmente os fermentados (como iogurte e kefir), podem ter efeitos benéficos sobre a saúde intestinal e reduzir inflamações.
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“Shot matinal de azeite muda a vida”
Acho que a onda não pegou por aqui, mas nos Estados Unidos tem uma galera acreditando que uma dose diária de azeite, em jejum, faz toda a diferença.
“Dá um impulso ao corpo”, “Foi uma virada de jogo”, “Melhora o intestino, aumenta o metabolismo e até deixa a pele mais bonita”. Esses são alguns dos depoimentos de influenciadores e celebridades por lá.
Agora vamos falar sério? Não há qualquer evidência científica que corrobore com estas afirmações. Azeite é uma ótima fonte de gordura, traz vários benefícios à saúde. Mas não há vantagem alguma na dose em jejum.
E tem mais: algumas pessoas mais sensíveis podem ter sintomas bem desagradáveis, como dor de barriga e diarreia.
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“Psyllium: o Ozempic natural”
Eu juro: uma “influenciadora fitness” chamou o psyllium de Ozempic natural. E nem ficou vermelha. Uma fibra natural que sim, pode prolongar a saciedade e ajudar o intestino a funcionar melhor – mas não muito mais que isso.
Nenhuma fibra isoladamente faz milagre, nenhum alimento faz. A saúde depende de um padrão alimentar e de diversos outros hábitos. Ao fazer essa comparação, a moça ignora este fato e ainda banaliza o tratamento de uma doença tão complexa quanto a obesidade.
Ou você acha que, se fosse tão simples, os laboratórios gastariam rios de dinheiro em pesquisa até chegar a medicamentos como o Ozempic e seus similares?
Para finalizar, queria compartilhar duas dicas que podem ajudar a manter o ambiente digital mais saudável, em vários sentidos. Primeiro, antes de compartilhar qualquer conteúdo, verifique se ele veio de um veículo ou profissional confiável, e se a notícia tem como base estudos sérios e relevantes.
E, ao identificar uma fake news, não compartilhe o link no WhatsApp, mesmo que seja para reclamar. Isso aumenta a visibilidade do conteúdo. Se quiser enviar, mande um print da tela e já explique que é balela. Raiva recreativa sim, mas com responsabilidade.
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