Um relato de caso publicado em setembro na revista científica Cell trouxe uma suposta esperança para pacientes com diabetes tipo 1: na China, uma mulher de 25 anos foi submetida a um tratamento experimental com células-tronco e já passou um ano sem precisar fazer aplicações diárias de insulina.
A novidade tem sido exaltada como uma inédita “reversão” do quadro de diabetes, mas especialistas da área apontam que é muito cedo para tratar o avanço como uma “cura” definitiva. Isso porque, pelas características da doença, é preciso esperar mais tempo para avaliar os resultados de longo prazo.
Entenda mais sobre o estudo.
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O que os pesquisadores chineses fizeram para “reverter” o diabetes?
O tratamento teve como foco o diabetes tipo 1, uma doença autoimune. Enquanto o tipo 2 da doença é caracterizado por uma menor produção ou incapacidade do organismo de utilizar a insulina, no diabetes tipo 1 o que ocorre é um ataque do próprio sistema imunológico contra as chamadas “ilhotas” do pâncreas, que produzem a insulina.
Para frear esse processo, o tratamento costuma envolver o transplante de ilhotas, um procedimento dificultado devido à falta de doadores. A novidade do estudo chinês é o uso de células-tronco embrionárias com o DNA da própria paciente, que, de forma inédita, foram modificadas em laboratório para se tornarem as tais ilhotas.
Posteriormente, com um procedimento cirúrgico, essas ilhotas foram implantadas na participante, iniciando a produção de insulina pelo próprio corpo – e evitando, pelo menos até agora, que ela precisasse voltar a injetar o hormônio.
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Quais as limitações do estudo?
Em primeiro lugar, é importante diferenciar: o termo “estudo” pode levar a um equívoco nessa situação. O que os pesquisadores publicaram, na verdade, foi um relato de caso, isto é, a descrição de um episódio isolado.
Ainda não há um estudo propriamente dito mostrando que esse método é aplicável em escala mais larga, nem se ele funcionaria para outros pacientes com diabetes tipo 1.
Outro ponto fundamental apontado por especialistas diz respeito às características específicas da paciente: como já havia recebido um transplante de fígado mais cedo na vida, ela fazia uso rotineiro de medicamentos imunossupressores, para evitar a rejeição do órgão.
Esses fármacos também ajudam a controlar doenças autoimunes (como o diabetes tipo 1), e podem ter sido o diferencial para o transplante de ilhotas ter dado tão certo em seu caso. Só que também geram uma dúvida que ainda precisa ser resolvida: o sucesso do método se deveu às inovadoras ilhotas criadas a partir das células-tronco da própria pessoa, ou ao uso prévio de imunossupressores?
Uma das formas de responder a essa pergunta é fazer um procedimento similar em pacientes que não utilizavam esses remédios anteriormente, o que ainda não ocorreu.
O grande debate de fundo, neste caso, é que o diabetes tipo 1 é marcado pelo ataque equivocado do organismo contra as ilhotas do pâncreas. O implante de novas ilhotas pode até dar uma folga (temporária ou duradoura) nas injeções de insulina, mas, por si mesmo, não impede nem interrompe esse ataque – ao menos, não sem a ajuda dos imunossupressores.
Como costuma ocorrer em revoluções da ciência, ainda são necessárias mais pesquisas para cravar quão viável será essa técnica para efetivamente superar a doença. Vale lembrar que há anos se estuda essa possibilidade, sem sucesso.
Na verdade, outros relatos do tipo já foram divulgados e geraram furor. Mas, no fim das contas, não era bem assim…
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