A humanidade nunca viveu tanto e tão bem. Hoje, temos acesso a um arsenal de tratamentos contra as mais diversas doenças, refeições prontas e balanceadas e redes que nos conectam a informações e pessoas de qualquer canto do planeta. Ainda assim, nos sentimos infelizes e ansiosos. Há algo de errado conosco?
Segundo o psiquiatra sueco Anders Hansen, não. Estamos apenas reagindo conforme o programado. “Ao contrário do que muitos pensam, nosso cérebro não evoluiu para nos tornarmos mais produtivos ou felizes”, declara o médico e autor best-seller.
Neste semestre, Hansen teve seu primeiro título publicado no Brasil, Felicidade Não É a Cura: Uma Perspectiva Científica Acerca da Nossa Busca por Ser Feliz (Intrínseca – clique aqui para comprar).
Na obra, o especialista reúne fatos históricos e conhecimento médico para questionar nossa obsessão pelo sucesso. Aprender a lidar com a frustração e a ansiedade, afinal, é necessário — bem como procurar ajuda quando precisar aliviar um fardo.
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VEJA SAÚDE: Vivemos à procura da felicidade, mas sentimos que nunca conseguimos alcançá-la. Há uma explicação biológica para isso?
Anders Hansen: Se queremos entender nossas emoções, devemos olhar para o desenvolvimento do nosso cérebro. O órgão mudou muito pouco nos últimos 20 mil anos. Em suma, ele ainda está adaptado à vida que os nossos ancestrais levavam nas savanas, onde havia perigo por toda parte.
Ao contrário do que muitos pensam, nosso cérebro não evoluiu para que nos tornássemos mais produtivos ou felizes, mas sim para que sobrevivêssemos.
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Na aurora da humanidade, somente metade das pessoas chegava à idade adulta. A maioria morria por fome, desidratação, infecções, acidentes e assassinatos.
Para sobrevivermos, portanto, tínhamos que nos planejar para o pior. Foi basicamente assim que aprendemos a ser ansiosos e é por isso que sentimentos positivos costumam ter curto prazo.
Nosso cérebro cultiva maneiras de nos manter em busca de novas formas de estar em segurança. Nós nunca evoluímos para sermos felizes o tempo todo.
No entanto, as mídias sociais nos fazem acreditar que é, sim, possível viver em contínuo regozijo — e, se você não vive assim, há algo de errado.
Nas redes sociais, vemos pessoas que parecem estar felizes o tempo todo. Mas simplesmente não fomos desenhados para isso. O problema é nos compararmos a um estilo de vida irreal e inalcançável, que nos faz sentir ainda mais insuficientes.
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Como podemos lidar com a tristeza de forma mais leve ?
Se você está em um período em que se sente para baixo, ansioso ou deprimido, dê um passo para trás e pense: “Isso é normal, não estou danificado ou quebrado… Vai passar”.
Não é recomendado que você fuja desses sentimentos imediatamente ou que se esforce para encontrar o lado positivo de tudo o tempo todo. Isso tampouco vai funcionar.
Acredito que analisar a situação pela perspectiva biológica também nos auxilie a ver as situações com mais clareza. Tomar distância e olhar para si mesmo como um espectador.
E, para aqueles que enfrentam problemas persistentes, como uma tristeza ou um vazio constante, é importante procurar orientação com profissionais da saúde.
Felicidade Não É a Cura
O título de seu livro é Felicidade Não É a Cura. Afinal de contas, o que pode nos curar?
Nem todo desânimo é patológico e, por isso, nem sequer precisa de um tratamento. Para os casos em que é necessário acompanhamento, o processo é feito com medicamentos e medidas não farmacológicas, que envolvem sessões de psicoterapia, adesão a atividades físicas, higiene do sono, entre outras.
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Em relação aos exercícios, por exemplo, já foi observado que eles aumentam a aptidão cardiovascular e diminuem os riscos de desenvolver depressão.
Isso tudo é possível graças à ativação do córtex insular, uma região no centro do cérebro responsável por regular nossos comportamentos e emoções à flor da pele.
É verdade que até infecções podem influenciar o nosso humor?
Essa é uma dúvida a que biólogos e médicos têm tentado responder nos últimos 15 anos. De acordo com a ciência, em certa medida, a presença de processos inflamatórios pode contribuir para o desenvolvimento de um terço dos casos depressivos.
Essa inflamação pode ser causada por bactérias, vírus ou até mesmo ser desencadeada pelo estresse excessivo, aliado ao sedentarismo, a dietas pobres em nutrientes e à privação de sono, para ficar em alguns exemplos.
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Como você imagina que o livro será recebido aqui no Brasil?
Eu acredito que, ao aprendermos mais sobre o funcionamento do cérebro, possamos nos tornar mais gentis conosco mesmos. Esse conhecimento serve de ferramenta para lidar melhor com diferentes fases de transtornos de ansiedade, depressão, pânico…
Além disso, todos os conselhos sobre estilo de vida que trago se tornam muito mais profundos quando você compreende como nosso corpo está todo conectado. É aí que percebemos quão urgente e benéfica costuma ser a mudança de hábitos.
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