O hormônio estrogênio – responsável pelas características físicas e órgãos sexuais femininos – atua a favor do organismo da mulher, retardando o tempo médio de desenvolvimento de doença arterial coronariana. De acordo com estudos nacionais e internacionais publicados, inclusive na Revista Científica da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, nas mulheres, a doença cardiovascular (DCV) ocorre de 10 a 15 anos mais tarde na comparação com homens. Para elas, o pico é entre os 55 e 70 anos.
Porém, entre mulheres, uma série de fatores aumentam a probabilidade do surgimento de DCVs em relação aos homens: diabetes, hipertensão, tabagismo (que confere risco 25% maior sobre o sexo oposto), depressão, ansiedade e estresse mental agudo (mais comum nelas) são exemplos.
E há fatores de risco específicos das mulheres, como:
- Síndrome dos ovários policísticos
- Menarca, menopausa e falência ovariana precoces
- Complicações gestacionais
- Eclampsia e pré-eclampsia
- Histórico de câncer de mama e seus tratamentos
Além disso, a própria anatomia coronariana feminina propicia incidência superior de doença arterial aterosclerótica e de óbitos nesta população. Isso acontece porque mulheres têm artérias coronárias menores e de menor calibre, o que contribui para obstruções.
Devido ao estresse e aos níveis hormonais, elas também tendem a desenvolver erosões de placas coronarianas, ruptura, embolização distal, espasmo e dissecção coronariana espontânea mais frequentemente do que eles.
Diferenças comprovadas
Desde as últimas décadas, especialistas focam suas pesquisas nas diferenças das doenças cardiovasculares entre sexos, e não são só os fatores de risco que atuam de maneira distinta.
A apresentação clínica das DCVs mostra particularidades: nos casos de infarto, mulheres podem ter sintomas inespecíficos iniciados dias ou até semanas antes do episódio cardiovascular, como fraqueza muscular em membros superiores, alterações de padrão do sono, ansiedade e fadiga.
Tais manifestações atípicas chegam a retardar o diagnóstico e conferir pior prognóstico e mortalidade às pacientes.
O maior número de óbitos entre mulheres por causas cardiovasculares é comprovado. Dados do Global Burden of Diseases, de 2019, revelaram que as DCVs foram responsáveis por 34,6% de mortes femininas e por 31,4% das fatalidades masculinas no mundo.
Da mesma forma, outros estudos atestam que elas têm mais chance de acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca como primeiro evento cardiovascular, enquanto os homens apresentam doença arterial coronariana nessa circunstância.
Há muita evidência científica embasando a recomendação que tanto a prevenção quanto o tratamento das DCVs em mulheres sejam realizados de forma individualizada. Impossível padronizar esse atendimento diante de tantas diferenças entre os gêneros.
Para incentivá-las a investir na saúde cardiovascular, em março, por ocasião do Dia Nacional de Conscientização das Doenças Cardiovasculares na Mulher (14/03), a SOCESP lançou uma campanha – em mídias sociais e em seu site – incluindo postagens com orientações preventivas, entrevistas e podcasts esclarecendo sobre o tema. A abordagem ainda ganhou edição completa na Revista Cientifica da SOCESP, no final do ano passado (saiba mais clicando aqui).
A preocupação em alertar também os profissionais da especialidade para criar estratégias específicas voltadas ao controle das DCVs em mulheres estará na pauta para o próximo Congresso da SOCESP, que acontecerá entre os dias 30 de maio e 1° de junho. Uma mesa de debates discutirá a “Doença Cardiovascular (DCV) na Mulher: Pilares para Redução da Mortalidade”.
São iniciativas cujo objetivo é conscientizar todos os envolvidos, chamando a atenção para a necessidade de um olhar exclusivo para o coração feminino.
*Lilia Nigro Maia, Salete Nacif e Nina Azevedo são cardiologistas e integrantes do SOCESP Mulher, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
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