Um ano e meio depois de sua liberação pela Anvisa, o Wegovy, primeira injeção semanal aprovada formalmente para o tratamento da obesidade no Brasil, tem data para chegar as farmácias.
A Novo Nordisk, farmacêutica responsável pelo medicamento, anuncia que ele estará disponível a partir de agosto de 2024. O preço máximo pelas injeções, estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), será de R$2.484, valor que pode variar para mais ou para menos nos pontos de venda.
“A aprovação da Anvisa foi rápida, a grande questão sobre a demora da chegada do medicamento foi a demanda”, explica Priscila Mattar, médica endocrinologista e vice-presidente da área médica da Novo Nordisk.
Segundo Priscila, o grande aumento da procura nos Estados Unidos — primeiro país onde o Wegovy foi lançado — exigiu ajustes na capacidade produtiva da empresa.
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O Wegovy tem o mesmo princípio ativo do Ozempic, a semaglutida. Os dois são fabricados pela Novo Nordisk, porém o Ozempic é aprovado pela Anvisa somente para o tratamento do diabetes — o uso que se faz para emagrecimento é off label. A diferença entre os dois é a dose: enquanto o Ozempic contém 1g do princípio ativo, o novo produto possui 2,4g.
Isso, segundo estudos, resulta em efeitos melhores contra a obesidade. Nas pesquisas pré-aprovação, a redução média da perda de peso com o uso do Wegovy é 17%, mas um terço dos pacientes conseguiram perder mais do que 20% do peso corporal.
A nível de comparação, essa costuma ser a média de perda de peso da cirurgia bariátrica. O Saxenda (liraglutida), outro remédio para obesidade, leva à redução de 5 a 7% do peso corporal, e o Ozempic de 10 a 15%.
Assim como seu irmão de fábrica, o Wegovy também chegará ao país sem necessidade de retenção de receita nas farmácias, apenas com o aviso no rótulo de que a venda deve ocorrer sob prescrição médica.
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Apesar da grande popularização desses medicamentos, de uma maneira até preocupante, Priscila Mattar frisa que todo tratamento para obesidade deve ser feito com acompanhamento médico, e que a única indicação oficial pro uso do WeGovy é para o tratamento do sobrepeso — índice de massa corpórea (IMC) acima de 27 com comorbidades — e obesidade — IMC acima de 30.
E a própria aprovação da Anvisa ressalta que o remédio é um complemento a uma dieta baixa em calorias e exercícios físicos direcionados para o controle do peso.
“Essa é a única comunicação científica que é feita. Toda a questão do uso off label e recreativo é uma coisa muito séria e sensível. Não existe nenhum endosso da Novo Nordisk para o uso fora das indicações de bula”, finaliza.
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Relembrando: o que é a semaglutida?
A badalada semaglutida, princípio ativo do Ozempic e WeGovy, é um agonista de receptores do hormônio GLP-1.
Nosso corpo fabrica este hormônio naturalmente no intestino em resposta à ingestão de comida, o que estimula o pâncreas a secretar insulina para que a glicose seja captada do sangue e vire energia nas células. Ele também retarda o esvaziamento do estômago e atua no sistema nervoso controlando a sensação de saciedade.
A sacada da indústria farmacêutica foi criar moléculas que imitam esse hormônio. Só que as versões sintéticas dão um passo além: enquanto a ação do GLP-1 natural dura no máximo 3 minutos, a semaglutida é quebrada gradualmente e permanece agindo por até sete dias. Daí a necessidade de picadas semanais.
Mas não há pílula ou injeção milagrosa. A medicação deve vir aliada ao cuidado com a alimentação, mudanças de comportamento e a prática de exercícios físicos.
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Quais são os efeitos colaterais do uso desses remédios?
Até agora, sabe-se que o uso de semaglutida pode causar náuseas, vômitos, dores estomacais fortes, diarreia, desconforto no abdômen (como azia e queimação), dor de cabeça, sonolência e constipação.
A pessoa pode sentir fraqueza e indisposição. Quem tem refluxo ou bebe álcool regularmente precisa conversar bem com o médico antes de apostar nesta categoria de medicamentos.
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