Os tradicionais pães de forma podem apresentar um teor alcoólico superior ao esperado. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a Proteste.
O estudo avaliou diversas marcas brasileiras e indica que alguns produtos apresentam percentual acima de 0,5% na porção de 100g. Acima desse teor, bebidas são consideradas alcoólicas, segundo a legislação brasileira. A título de comparação, uma lata de cerveja tem 5% de álcool.
No levantamento, a Proteste defende que alguns pães brasileiros deveriam ter um aviso na embalagem com o informe “contém álcool”. O documento pontua ainda que comer mais do que duas fatias de algumas marcas já seria o suficiente para não passar no teste do bafômetro.
“Em termos de saúde pública, é fundamental que essa pesquisa atinja a população, para que as pessoas busquem produtos com a quantidade mínima de álcool”, frisa o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
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De onde vem o álcool encontrado nos pães de forma?
Antes de chegar às mesas de café da manhã, o pão de forma passa por diversos processos químicos. Na fase de fermentação, os açúcares que se encontram na massa são transformados em álcool etílico e gases.
Isso até poderia explicar os resultados da pesquisa, mas não é bem assim… As altas temperaturas do forno levam à evaporação de grande parte da substância, enquanto os gases promovem o crescimento das fatias.
Mas então… de onde vem o álcool?
Um dos principais motivos para o descarte dessa categoria é a presença de fungos, aquele mofo verde que se forma no pão. Sobre isso, aliás, vale dizer que retirar apenas a parte mofada e consumir o restante não é indicado, já que a contaminação acontece por completo.
A solução encontrada pela indústria para esse problema explica a questão.
“O que acontece é que os produtos industrializados são aspergidos com uma solução alcoólica antimofo. Isso pode aumentar o teor de etanol no final do processo, como mostra a pesquisa”, explica a nutricionista Inara Santos Nascimento Souza, coordenadora do serviço de nutrição do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram uma metodologia laboratorial que permite estimar a quantidade de etanol na amostra.
Veja o teor alcoólico de 10 marcas de pão de forma
Confira:
- Visconti: 3,37%
- Bauducco: 1,17%
- Wickbold 5 zeros: 0,89%
- Wickbold Sem Glúten: 0,66%
- Wickbold Leve: 0,52%
- Panco: 0,51%
- Seven Boys: 0,50%
- Wickbold: 0,35%
- Plusvita: 0,16%
- Pullman: 0,05%
Alterações no teste do bafômetro
Ao soprar o bafômetro, o resultado não deve ultrapassar 0,04 mg/l. Índices de 0,05 mg/l a 0,33mg/l são considerados infração gravíssima. Dado igual ou acima de 0,34 mg/l é observado como crime de trânsito.
De acordo com a análise, o consumo de apenas duas fatias de alguns produtos poderia influenciar nos resultados do teste.
“Poderíamos inferir que a contribuição de massa em gramas de álcool de 2 fatias da amostra analisada das marcas Bauducco, Visconti e Wickbold 5 Zeros poderiam incorrer em riscos à motoristas em Testes de Bafômetros”, diz o texto da pesquisa.
Há motivo para preocupação dos consumidores?
A divulgação da pesquisa feita pela Proteste viralizou nas redes sociais e levou a temores sobre a ingestão do tão popular pão de forma.
O presidente da Abran sugere que o achado não significa que o alimento não deve ser consumido, mas sim que é preciso ficar atento à composição dos alimentos. E, nesse caso do pão, na quantidade de álcool — que não está expressa no rótulo, como o produto não é considerado oficialmente alcóolico.
O nutrólogo sugere que as marcas devem atuar para evitar esse alto índice de álcool nos pães, revendo e refazendo suas formulações. A nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz destaca que a população não precisa retirar o pão do consumo alimentar diário.
“É preciso fazer a melhor escolha pensando se deseja ou não o álcool nesse contexto. Para quem não bebe e tem ingerido pão com maior teor alcoólico, se o consumo for diário, pode-se diminuir as quantidades ou escolher os pães com menor índice. As alterações devem ser embasadas nesse contexto, pensando em ter a menor quantidade de álcool disponível no alimento”, orienta Inara.
Filho ressalta que a exceção fica para pessoas que têm problemas que podem ser agravados pelo álcool. “Para quem possui doenças no fígado, como a esteatose hepática, e mesmo os portadores de um grau mais avançado, como a cirrose, seria prejudicial a ingesta desses pães”, pontua.
A Proteste sugere que alguns produtos sejam rotulados
O que dizem os fabricantes
Em nota, o Grupo Wickbold, que detém a marca de mesmo nome e a Seven Boys, afirmou que não foi notificado do estudo e da metodologia utilizada, o que impede qualquer manifestação sobre a pesquisa.
“Todas as receitas de produtos, assim como todas as áreas da empresa, seguem protocolos de segurança e qualidade, com o mais alto teor de controle, bem como cumpre toda a legislação vigente, dentro dos parâmetros impostos pelas normas estabelecidas”, disse o grupo em nota.
A Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti, afirmou que adota rigorosos padrões de segurança alimentar em todo seu processo produtivo e na cadeia de fornecimento.
“A empresa possui a certificação BRCGS (British Retail Consortium Global Standard), reconhecida como referência global em boas práticas na indústria alimentícia, e segue toda a legislação e regulamentações vigentes. Priorizando a qualidade de seus produtos, a Pandurata respeita as Normas de Boas Práticas de Fabricação e destaca que seus cuidados começam com uma criteriosa seleção de fornecedores se estendendo por todas as etapas de produção”, afirmou a empresa em nota.
A Panco foi contatada, mas não respondeu até o momento. A Pullman e Plusvita, que integram a mesma marca, também não retornaram. O espaço permanece aberto e o texto poderá ser atualizado com o posicionamento das empresas.
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