Dois problemas sérios emergem quando se trata de saúde mental de trabalhadores: o burnout e o assédio. Mas o que pouca gente sabe é que ambos guardam uma relação de causa e consequência com os chamados “riscos psicossociais”.
Para entender o que são os riscos psicossociais, imagine um ambiente de trabalho onde as pessoas estão sempre sob pressão, contam com pouca ajuda dos colegas ou supervisores e sentem que não têm controle sobre suas tarefas. Essas situações configuram exemplos de riscos psicossociais e afetam as emoções.
Os riscos psicossociais estão relacionados à forma como o trabalho está organizado em aspectos e circunstâncias que interagem com a nossa versão subjetiva – isto é, psicológica, e também social. Em outras palavras, isso significa dizer quem somos na vida e no mundo fora do trabalho.
Quando constantes, os riscos psicossociais podem levar ao quadro de saúde ocupacional identificado como burnout, um estado de exaustão física e mental. As pessoas com burnout sentem-se cansadas o tempo todo, desiludidas com o trabalho e duvidam da própria capacidade. É como se a energia para enfrentar o dia a dia no emprego simplesmente desaparecesse.
Em locais onde o burnout é comum, as relações entre as pessoas podem se deteriorar. Nesse ambiente tenso, o assédio – seja moral, organizacional, sexual ou de qualquer outro tipo –, pode surgir.
Mas são os riscos psicossociais a raiz do problema. O assédio é um sintoma claro de que as coisas não estão bem no trabalho, refletindo o desgaste nas relações e a falta de respeito mútuo.
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Os riscos psicossociais são responsáveis pela instalação de um ciclo negativo: quanto mais presentes, maior o risco de as pessoas se sentirem esgotadas e de ocorrerem comportamentos inadequados, como o assédio.
Em minha jornada, já ouvi inúmeras vezes de pessoas diagnosticadas com burnout a confissão de que, sim, elas assediaram muitas pessoas na tentativa de dar conta das demandas sem o suporte e os recursos necessários.
É como uma bola de neve, onde uma coisa leva à outra, piorando o ambiente de trabalho. A solução está, em primeiro lugar, na restauração do coletivo de trabalho, na confiança mútua, no coleguismo. Isso envolve, na prática, garantir que os trabalhadores tenham apoio, recursos adequados e, acima de tudo, reconhecimento.
Aquela pessoa bem humorada, que lembra do aniversário de todos e que está sempre pronta para ajudar (mesmo em detrimento de suas próprias tarefas) precisa ser valorizada e entendida como alguém essencial no ambiente de trabalho. A cultura da super produtividade tende a dar pouco espaço para essas pessoas – e o resultado é um ambiente competitivo, mas pouco solidário.
É importante reduzir os fatores de risco psicossociais oferecendo, sempre que possível, mais autonomia nas tarefas, flexibilidade de horários, jornadas que permitam mais descanso e treinamento e suporte adequado, apenas para citar alguns poucos exemplos. Assim diminuímos a exposição.
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No entanto, entender como os riscos psicossociais surgem e, a partir daí, influenciam o aparecimento de casos de burnout e assédio é o primeiro passo para criar um local de trabalho saudável e positivo.
Uma cultura de respeito e colaboração é o que verdadeiramente protege as pessoas. É a estrutura que permite a nossa imunidade contra a exposição aos riscos psicossociais.
Nesse sentido, o maior segredo a compartilhar com vocês é de que a saúde mental de trabalhadores será uma utopia enquanto um ambiente de solidariedade e respeito entre os pares não voltar a existir.
*Luciana Veloso Baruki é auditora pioneira em fiscalizações de assédio no Ministério do Trabalho, advogada, médica pós-graduanda em Saúde Mental e Psiquiatria, administradora de empresas e fundadora do perfil @assedionet nas redes sociais
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