Em dias muito gelados ou de calor intenso, você certamente já duvidou dos números apontados pelos termômetros. Isso acontece porque as temperaturas registradas podem ser sentidas de maneira diferente pelas pessoas. É aí que surge o conceito de sensação térmica.
A sensação térmica é uma estimativa de como a temperatura do ar é percebida pelo corpo humano, levando em consideração uma série de fatores.
“O termômetro mede a temperatura do ar, mas nossa percepção é influenciada por aspectos como umidade, vento, exposição ao sol e nossa própria produção de calor corporal”, afirma a médica Tatiana Buainain, do Hospital Santa Paula, da rede Dasa.
“Em dias quentes e úmidos, o corpo tem mais dificuldade em se resfriar, porque o suor não evapora facilmente, aumentando a sensação de calor. Por outro lado, em um ambiente frio e com vento, a sensação térmica pode ser mais baixa do que a temperatura real, pois o vento remove o calor do corpo mais rapidamente”, acrescenta Tatiana.
Sim, em situações de baixa temperatura, o vento influencia no desconforto térmico pois remove continuamente a camada de ar quente que envolve nossa pele, e que funciona de certa forma como um isolante.
Como a temperatura corporal humana é mais quente que a do ambiente nesse período, acontece um fenômeno em que passamos a ceder calor para o meio de forma mais rápida, aumentando a sensação de frio.
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Como é medida a sensação térmica?
A sensação térmica pode ser calculada de diferentes formas, dependendo das condições momentâneas de tempo e não existe um modelo que seja universal.
No Brasil, o indicador geralmente está associado a dois modelos utilizados pela comunidade científica, que consideram nos cálculos a combinação entre temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento.
Um dos indicadores é o índice de resfriamento (ou wind chill), que expressa o efeito do resfriamento do ar em movimento ou o vento a diferentes temperaturas. O dado é frequentemente utilizado no inverno, quando são registradas as menores temperaturas.
Outro método utilizado é o índice de calor (ou heat index), que considera o efeito da umidade sobre a temperatura. Quanto maior a umidade e a temperatura do ar, maior a sensação térmica, pois com o ar saturado de água é mais difícil de suar, processo responsável por “esfriar” o nosso corpo.
Este modelo é adotado nas análises dos períodos quentes, como no verão, quando a temperatura do ar alcança os valores máximos e a umidade relativa permanece alta em boa parte da estação.
O estudo dos modelos de previsão de sensação térmica englobam um campo extenso de estudos. São mais de 200 índices do tipo contabilizados na bibliografia e a quantidade continua a aumentar à medida que novos elementos são englobados nos cálculos.
Além dos parâmetros que mencionamos, são utilizados ainda índices que consideram fatores ambientais, tipo de vestimenta, características fisiológicas e socioculturais. A sensação térmica também considera combinações de elementos do clima como radiação, temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade e direção do vento.
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Além do termômetro
A sensação térmica é influenciada por vários fatores, além da mistura de temperatura, umidade e vento.
Características fisiológicas e metabólicas de cada indivíduo também fazem parte dos cálculos. Uma pessoa com sobrepeso e sedentária vai ser mais afetada pelo calor do que um indivíduo com peso ideal para sua idade e altura e que se exercita, por exemplo.
As roupas também influenciam a sensação térmica, pois elas podem contribuir ou prejudicar as funções reguladoras da temperatura corporal. “Roupas podem isolar o corpo, aumentando a percepção de calor, ou então, permitir a dispersão do mesmo, diminuindo a sensação térmica”, diz Tatiane.
Características socioculturais fazem parte das variáveis relacionadas à sensação térmica: pessoas que vivem em localidades comumente afetadas pelo frio intenso adquirem tolerância ao frio e podem perceber quedas bruscas de temperatura de maneira diferente.
A exposição direta ao sol aumenta a temperatura percebida, mesmo que o ar esteja relativamente fresco. O esforço físico eleva a produção de calor do corpo, o que pode intensificar a sensação de aquecimento.
Fontes: Mauricio Sanches Duarte Silva, doutor em Ciências da Engenharia Ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos (USP), com ênfase em conforto térmico e índices climáticos para turismo; Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e Universidade Federal do Tocantins.
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