Há discussões acerca dos potenciais riscos associados ao consumo de sucos de frutas. No entanto, como cientista, penso que é válido questionar esses supostos riscos.
Nesse debate, o suco de laranja costuma ser rotulado como o grande vilão. Ele já foi comparado até mesmo a refrigerantes sabor cola. Ao avaliar as calorias, a bebida gaseificada possui 34 kcal em 100 ml, enquanto o suco, 37 kcal. Porém, comparar ambos com base em seu conteúdo calórico é uma abordagem bastante simplista.
Os refrigerantes contêm apenas açúcares, enquanto o suco de laranja é um alimento complexo, fonte de vitaminas, minerais e compostos bioativos, como os carotenoides e flavonoides.
Segundo trabalho de Renata Alves Carnauba, publicado no British Journal of Nutrition, o suco de laranja é uma das principais fontes de bioativos para a população brasileira e acessível a todas as classes sociais.
Um estilo de vida saudável e uma dieta baseada vegetais previnem a obesidade e doenças relacionadas em parte por conta do consumo dos bioativos. Contudo, muitos não atingem a quantidade recomendada de frutas, legumes e verduras ao dia (400g).
A ingestão de suco 100% natural pode facilitar essa ingesta e fornecer micronutrientes e compostos bioativos. Curiosamente, o suco de laranja contém mais antioxidantes que a fruta, pois o processamento aumenta a biodisponibilidade dos flavonoides, como hesperidina e narirutina.
Um dos principais efeitos verificados em estudos clínicos sobre o consumo desse suco é a redução na pressão arterial. Este achado foi verificado por meu grupo de pesquisa, liderado por Franco Lajolo e Neuza Hassimotto, e publicado no periódico Food & Function.
Pesquisas indicam que a bebida pode reduzir LDL e colesterol total, aumentar a capacidade antioxidante e regular positivamente proteínas para sinalização celular e replicação do DNA. Além de diminuir citocinas inflamatórias, como interleucina-6 (IL-6) e TNF-alfa.
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A resposta à ingestão de suco de laranja pode variar entre indivíduos devido a uma variedade de fatores, incluindo genética, estilo de vida, microbiota intestinal e diferenças na absorção e metabolização de flavonoides.
Um estudo conduzido por mim e publicado na Food Research International observou os efeitos da ingestão de suco de laranja pela excreção de flavonoides na urina. Este tipo de análise nos assegura que os bioativos atingiram os tecidos do corpo humano antes de serem eliminados. O mesmo processo se aplica a fármacos.
Após o consumo do suco de laranja, os voluntários foram classificados em altos, médios ou baixos excretores. O trabalho mostrou que a microbiota intestinal é capaz de controlar a absorção de flavonoides desse alimento. Além disso, a ingestão da bebida pode melhorar a saúde da microbiota, aumentando a diversidade de espécies microbianas.
Em suma, o consumo de alimentos vegetais ricos em compostos bioativos pode modular positivamente o conjunto de micro-organismos que vive no intestino. A dieta pode impactar em até 57% das variações nas bactérias intestinais, enquanto os fatores genéticos contribuem de 8,8 a 12%. Entretanto, é importante ressaltar, que qualquer modulação é temporária, exigindo que a abordagem seja sustentável a longo prazo.
Os trabalhos citados neste artigo foram financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
*Camille Perella Coutinho é nutricionista, jornalista e pesquisadora do FoRC – Centro de Pesquisa em Alimentos
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